Estamos novamente nos aproximando da data base no setor do comércio - agosto - e prestes a iniciar as salutares negociações sindicais, com o objetivo de estabelecer as condições de trabalho através da Convenção Coletiva. Um dos tópicos das negociações certamente serão o reajuste salarial e o valor do novo piso normativo.
Comumente o reajuste é baseado nos índices inflacionários ocorridos nos últimos 12 meses, a fim de recompor o poder de compra dos salários.
Porém, cabe nos indagar se esse é realmente o melhor critério, o melhor parâmetro. A reposição salarial acaba novamente trazendo à tona a inflação, reajustando-se os salários, posteriormente os produtos e serviços, num círculo vicioso que bem conhecemos. Os reajustes automáticos constituem-se indiscutivelmente em causa da inflação, que corroi o poder de compra dos salários, sendo extremamente prejudicial aos trabalhadores, que em muitos casos, não possuem condições de defender-se desta situação.
Não seria melhor basear o reajuste salarial analisando-se a produtividade e não a inflação?
Na conjuntura econômica atual, qualquer ganho de salário deve ser proporcional à produtividade e jamais à inflação.
Os anos de 2013 e 2014 trouxeram de volta o fantasma da inflação, e não por acaso também foram decepcionante em termos de crescimento da produtividade.
A falta de produtividade causa um baixo investimento e a carência de mão de obra qualificada, acarretando uma menor criação de riquezas, isto é, menor capacidade de gerar bens e serviços e uma estagnação em nossa economia. A estagnação da economia ainda não foi sentida pela população, porque o mercado de trabalho continua com o pleno emprego, mas sem investimentos, e baixa produtividade, o quadro tende a se tornar insustentável.
O debate da produtividade deve substituir o debate em torno dos índices inflacionários. A riqueza de um País deve-se à sua capacidade de gerar bens e serviços, com a melhor utilização possível dos recursos disponíveis. O fator chave para possibilitar o desenvolvimento econômico, gerando uma melhora na qualidade de vida à todos, é o aumento da produtividade, que possibilitará a diminuição da pressão inflacionária, que tanto assola o País.
Por outro lado, não se pode confundir o PIB - Produto Interno Bruto - com produtividade. O PIB é o aumento da produção de bens no País. O aumento do PIB não significa que a produção de bens ocorreu com produtividade, que é a geração de bens e serviços com o melhor aproveitamento do serviço. A produtividade não ocorre somente com o aumento de produção e sim com a eficiente utilização dos recursos disponíveis.
O Banco Central trouxe uma importante constatação em seu Relatório Trimestral de Inflação, divulgado no último dia 26/06: a de que a espiral salários-inflação atingiu níveis preocupantes na economia brasileira. Em função da ausência de ganhos de produtividade e do continuado processo de fortes reajustes salariais nas negociações coletivas - baseados sempre na inflação pretérita e não na expectativa de inflação futura, como bem destacou o documento do BC -, os aumentos salariais dos últimos anos vêm se revertendo em aumento da inflação.
Assim, o desafio é recompor o poder de compra dos empregados, através de uma remuneração justa e digna, sem afastar os olhos na produtividade do trabalho.